sexta-feira, 24 de junho de 2011

A estátua

Durante a semana toda a cidadezinha estava em alvoroço. Afinal, num lugar como aquele, longe da capital, sem muitas opções de diversão, a inauguração de uma estátua é sempre uma atração diferente. Com direito a dupla sertaneja e fogos de artifício.
Na manhã do tão esperado domingo os moradores começaram a planejar as roupas que usariam. Muitas destas roupas estavam guardadas há muito tempo esperando uma ocasião especial. Após o almoço lá foram os habitantes daquele lugar que só não era chamado de vila por que alguém achou que cidade seria um título mais honroso.
Após o show sertanejo começou o tão esperado discurso do prefeito:
- Moradores de nossa tão nobre cidade! Ainda lembro de quando ainda criança, meu tão nobre avô conseguiu conquistar a confiança do governador e alcançar a promoção deste lugar de vila para cidade. Agora temos uma prefeitura, câmara de vereadores, secretarias, serviço de saneamento e tantos outros benefícios que só uma cidade pode oferecer a seus moradores. A vida de um político honesto é difícil neste país. Temos que nos sujeitar a muitas reuniões e horas de trabalho intermináveis... mas tudo vale a pena quando a cidade é pequena...Isso é muito parecido com o que aquele poeta escreveu: "tudo vale a pena quando ... a vida ... a casa... bem, quando algo importante não e pequeno. Nossa cidade é pequena; mas somos grandes, pois somos nós.

O povo aplaudiu entusiasticamente tais palavras tão significativas. O prefeito, mostrando humildade comum a um homem público continuou:
- Hoje inauguraremos esta estátua em consideração, respeito e gratidão a um dos cidadãos mais dedicados , queridos e esforçados desta cidade. Ele nunca pensou em ser político de carreira, porém, como não conseguia deixar de se preocupar com o bem estar de seus concidadãos, preferiu deixar o sossego e conforto de uma família abastada e com muitos empregados a seu dispor para servir. Não foi isso que o Grande Líder nos ensinou: "Se quiseres ser o maior, que sirva os menores"... Acho que é mais ou menos isso. Sendo assim este grande homem decidiu assumir uma posição de liderança a fim de ajudar os infelizes moradores deste pequeno lugar do fim do mundo. Não... sua vida nem sempre foi um mar de rosas, pois os espinhos sempre estão ali.
Neste ponto do discurso, tinha gente chorando, outros gritavam o nome do glorioso homenageado, crianças agitavam bandeirinhas distribuidas com este objetivo. A cena era linda e não tinha quem não se comovesse.
- Sei que poderia falar por horas sobre este grande e humilde herói quase anonimo de nosso meio, mas este não é o objetivo. Ele sempre teve a discrição, humildade e simplicidade como características marcantes. Vamos então cortar a fita que sela a cobertura desta estátua que não precisamos pensar se foi cara ou não, pois mesmo tendo sido, valeu a pena sacrificar um pouco dos cofres públicos para tão singela homenagem. Quero agora convidar o filho de nosso homenageado para romper a fita. Gustavinho, faça o que o destino te preparou para fazer.
Estas palavras foram marcantes demais. O povo entrou em delírio. Eles estavam sensibilizados com tamanha homenagem. Eles aplaudiam, batiam palmas e, principalmente as mulheres (os homens escondiam o rosto) choravam de emoção. A subida do menino de dez anos ao palanque foi emocionante. Ao pegar a tesoura e cortar a fita o povo aplaudiu mais ainda. Gustavinho então virou para o prefeito e perguntou:
- Pai, o senhor quer que eu faça mais alguma coisa ou posso ir brincar?

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